terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Visita guiada ao meu mundo

Nasci em Junho, o que faz de mim uma pessoa do signo gémeos e faz com que as pessoas me digam que sou difícil, imprevisível e que tenho duas personalidades. Acho que são tudo balelas e sou como qualquer outra pessoa, que tem os seus dias e os seus humores. Não acredito nessas coisas, mas confesso que quando as previsões são boas, me apetece acreditar. Acho que está na natureza humana essa necessidade de nos agarrarmos a alguma coisa e que foi por isso que alguém inventou um dia esse ser superior chamado Deus, capaz de fazer justiça na sua omnisciência, omnipresença e omnipotência. Acredito que esta invenção serve apenas para acalentar esperanças àqueles que nem sempre acreditam em si próprios. Apesar das minhas inseguranças, acredito que o destino, de que tantos falam, somos nós que o fazemos.

Os meus pais dizem que era uma criança difícil. Nunca obedecia a nada, tinha já as minhas opiniões muito bem formadas e passava a vida a fugir. Piscavam os olhos e já eu tinha desaparecido. A pouco e pouco, foram-se apercebendo que as minhas decisões, enquanto criança de 3, 4 ou 5 anos não variavam assim tanto e o mais provável era ter fugido até à abelha maia que estava na rua ao lado. Na 3ª classe dei-lhes o maior problema ao ser expulsa da escola primária que frequentava. Já com 8 anos tinha esta mania de escrever aquilo que pensava e resolvi enviar uma carta de "amor" à besta da professora que tinha. Fui tão castigada e envergonhada que durante anos me recusava a falar no assunto. Quando fiz 18 anos, o meu pai devolveu-me essa carta e confessou-me que, apesar do castigo que se sentiu obrigado a dar, com receio de dar mais força às minhas travessuras, nunca se tinha sentido tão orgulhoso de mim. Disse-me, então, que nunca pensou que, com 8 anos, eu fosse capaz de fazer tão brilhante descrição, sendo capaz de forma simples e directa descrever tal personagem esteticamente, intelectualmente, afectuosamente e moralmente. A minha carta dizia: " A senhora professora é feia, burra, má e puta!".

Tenho uma relação estranha com o meu pai. Não me lembro nunca de termos dado um abraço ou sequer de me ter pegado ao colo. Em adolescente, criei esta ideia de que estávamos permanentemente em guerra aberta. Só em adulta percebi que é incapaz de me dizer que não, que ficou doente os 6 meses em que fiz Erasmus e confessou-me há pouco, que desde que saí de casa, se pergunta quanto tempo vou tardar a voltar. Irracionalmente, acalenta essa esperança.

Escusado será dizer que duas das coisas que mais gosto de fazer, são ler e escrever. São uma verdadeira paixão. Assim que comecei a aprender a fazê-lo, enquanto as minhas amiguinhas sonhavam em ser cabeleireiras ou secretárias, eu afirmava já que seria escritora. Com o tempo, percebi que para isso é necessário talento e calculando os meus riscos, acabei por optar uma ciência exacta, onde sabia que tinha bons resultados e, assim, segui finanças.

Quando comecei a trabalhar, assim que tocava o despertador, levantava-me da cama num ápice, como quem tem que se despachar porque vai encontrar-se com o amor da sua vida. Essa fase de enamoramento durou cerca de um ano, até ao momento em que as minhas tarefas deixaram de me dar algo para aprender e passei de um chefe fantástico para uma verdadeira besta. Continuo a adorar a empresa em si e a equipa fantástica que me rodeia. Adoro o facto de poder dar uso ao meu poliglotismo, de que tanto gosto de me gabar, e de estar rodeada de projectos apaixonantes e ideias brilhantes. No entanto, sinto muitas vezes que estou no sítio errado e que não é aqui que vou ser feliz.

Há 7 anos que não me apaixono, mas a verdade é que ainda acredito no amor. Só não sei se acredito que este possa efectivamente durar para sempre, como tantos insistem em apregoar, mesmo perante as taxas de divórcio a disparar.Tive duas relações duradouras.

Nunca sonhei em casar. Já com 11, 12 anos pensava como ficaria ridícula, sendo já mais branca que a cal, num desses vestidos brancos. Não sendo católica, achava já que seria hipócrita se casasse numa igreja. Sendo tímida, não me imaginava um dia inteiro com as atenções viradas para mim. Vi uma vez, numa serie americana, um casal, que celebrou esse compromisso, escrevendo os tais "votos" que por lá se usam, num post-it, assinando por baixo. Só os dois, sozinhos, fazendo juras de amor eterno. Achei que era uma das coisas mais românticas que já tinha visto. Identifico-me muito mais com um momento intimo a dois para celebrar esse tipo de sentimentos, caso existam, do que com um copo de água com duzentas pessoas e eu vestida de suspiro. Se um dia, tiver tamanha certeza, é isso que quero para mim.

Gostava de poder continuar esta visita guiada, mas vejo agora, à medida que escrevo, que o meu mundo é imenso e que seriam precisas muitas mais viagens para to mostrar inteirinho. Não são estas as únicas atracções desta minha cidade, mas seria preciso muito mais tempo para a explorar e visita guiada que se preze, tem que ter principio, meio e fim.

Talvez um dia, te fale nessas outras coisas que me pertencem. Hoje ficamos por aqui, com esta pequena amostra... espero que tenhas gostado.

1 comentário:

L'Enfant Terrible disse...

A vida é difícil para quem carácter, mas talvez por isso tenha um sabor que sabemos faltar na ignorância dos outros.